Dispositivo de lente para realidade aumentada pode causar danos aos olhos
A segurança oferecida pelas lentes futuristas de realidade aumentada ainda deve render polêmica ao projeto.
Elas terão partes feitas com metais e substâncias químicas tóxicas. Além disso, a antena usada para gerar energia nas lentes emitirá radiação, como todo equipamento que trabalha com radiofrequência.
Sobre a radiação, Babak Parviz, pesquisador da Universidade de Washington, disse à Folha que as lentes trabalharão em potências mais baixas que os celulares e, portanto, emitirão menos radiação. Paralelamente, a emissão de radiação por celulares voltou a ser discutida nos EUA nas últimas semanas, com a publicação de um estudo sobre um assunto pela ONG Environmental Working Group.
Protótipo de lente de contato com componentes
de cristal único de silício
Protótipo de lente de contato com chip de rádio,
antena, além de LED vermelho;
versão para Exército deve ficar pronta até o fim do ano
Frequência
De acordo com o FCC, a Anatel americana, a densidade máxima permitida da potência de aparelhos operando em frequências de 1,5 GHz a 100 GHz é de 1 miliwatt por centímetro quadrado.
O professor diz que seus protótipos atuais podem operar em frequências de 900 MHz a 6 GHz; celulares normalmente operam na faixa de 1,9 GHz.
Sobre os outros componentes eletrônicos, Parviz diz que eles serão encapsulados em material compatível com os olhos antes de serem anexados às lentes. A limpeza das lentes do futuro seria como a de lentes convencionais, e sua vida útil seria parecida com a de lentes de contato rígidas gás-permeáveis, que duram cerca de um ano.
Calor
Outro desafio das lentes será não gerar um aumento de temperatura acentuado enquanto todo o seu poder computacional estiver em ação.
O professor diz que a temperatura gerada pelas lentes obrigatoriamente tem que ficar abaixo dos 45 C. Dessa forma, segundo ele, o calor não deverá ser um problema.
Porém não é isso o que pensam oftalmologistas ouvidos pela Folha. Jerry Rapp, da Escola de Oftalmologia da State University of New York, diz que não seria uma “boa ideia” submeter os olhos a qualquer aumento de temperatura.
Ele cita a fragilidade das proteínas, estruturas fundamentais nas atividades celulares de todos os seres vivos.
Proteínas in vitro (fora de um organismo vivo) sofrem deformações a partir de 55 graus Celsius. Portanto, diz o professor, para evitar possíveis danos, não seria aconselhável aumentar para até 45 graus as proteínas das células dos olhos humanos.
Cientistas desenvolvem lente para mandar informações direto para os olhos
O encontro entre informações visuais virtuais e imagens do mundo real, conceito conhecido como realidade aumentada, poderá acontecer diretamente no olho humano -sem telas de celular ou computador.
Um dos projetos explorando a ideia, que parece saída das páginas do escritor de ficção científica William Gibson (“Neuromancer”), é de autoria de Babak Parviz, pesquisador da Universidade de Washington, Seattle. Ele está desenvolvendo lentes de contato com capacidade para gerar imagens virtuais sobre o campo de visão de quem as utiliza.
Em teoria, com a lente, motoristas poderiam dirigir e receber direções diante dos olhos, ou oradores poderiam ler discursos sem ajuda de papel ou monitores.
Parviz também aposta no uso das lentes como ferramenta para acompanhamento da saúde. Ele trabalha no desenvolvimento de sensores para monitorar e alertar sobre níveis de glicose -algo que ele diz esperar tornar-se realidade daqui a cinco ou dez anos.
Protótipo
Por ora, a equipe do pesquisador já conseguiu produzir um protótipo que inclui LED (tecnologia de iluminação utilizada em televisores modernos), um chip e uma antena que transmite a energia para o LED de maneira sem fio. Tudo isso num espaço de 1,5 centímetro quadrado.
Uma vez superado o desafio do pequeno espaço, as lentes também devem ganhar outras microestruturas, como transistores de cristal único de silício e fotodetectores de silício.
Os primeiros usuários das lentes foram coelhos, submetidos a sessões de 20 minutos com elas nos olhos. Parviz diz os animais não tiveram efeitos colaterais.
Os coelhos, porém, não viram realidade aumentada ou tiveram seus níveis de glicose medidos. Os testes foram conduzidos para que os pesquisadores pudessem se assegurar da compatibilidade do material com os olhos.
Outra pesquisa
Mas Parviz não é o único pesquisador a querer transformar os olhos humanos em telas de computador.
Também no Estado de Washington, a empresa Microvision desenvolve o seu monitor retinal virtual, nome da categoria de aparelhos usados diretamente nos olhos que geram imagens sobre o mundo real.
A empresa foi contratada pelas Forças Armadas dos EUA para desenvolver óculos com capacidade de receber informações visuais. O equipamento daria mais agilidade aos soldados, que, em momentos de conflito, precisam acessar uma grande quantidade de informações em pouco tempo.
No site da companhia (www.microvision.com), existe também menção sobre o uso do produto pelo consumidor comum. Mas tanto os produtos militares quanto os destinados ao consumidor ainda estão em fase de desenvolvimento. Até o fim do ano, uma versão beta dos óculos deverá ser entregue ao Exército.
BRUNO ROMANI colaboração para a Folha em Berkeley (EUA)
Matéria retirada do jornal Folha de São Paulo – Quarta-feira, 23 de setembro de 2009 – Caderno Informática pág F7.
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